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Você consegue imaginar sua vida sem seu celular? Ou ler esse texto sem dar uma olhada no aparelho? A gente te entende :).
Na verdade, eliminar a tecnologia das nossas vidas seria acabar com um dos aspectos mais práticos que já conquistamos como humanidade. Mas e quando nossa relação com a tecnologia nos atrapalha?
Existe um limite entre usar a tecnologia e desenvolver dependência tecnológica? E quando usamos as ferramentas para o trabalho?
Para entender o fenômeno
Menor sociabilidade, baixa na produtividade e às vezes, aquele sentimento de que as pessoas têm uma vida melhor que a sua são alguns dos efeitos da nossa longa exposição à tecnologia ao longo do dia.
Quando agravados, estes aspectos podem prejudicar a sua vida real, bem como a empresa a qual você dedica seu tempo. Vício em emails, submissão a métricas ou ferramentas também são comuns.
Por isso, chamamos a Lívia Bicalho, expert em Recursos Humanos para entender melhor como a tecnologia alterou nossas relações entre si — especialmente no trabalho.
Como ela mesmo diz, precisamos voltar ao básico.
Quer entender mais sobre o assunto? Continue a leitura!
Definição de dependência tecnológica
Dependência tecnológica (ou nomofobia) é um quadro clínico caracterizado pela falta de controle de um indivíduo sobre seu uso de internet, jogos e smartphone. Este diagnóstico tem sido estudado há cerca de 05 anos por especialistas.
Estima-se que 10% da população sofra deste mal, que vem crescendo exponencialmente.
Ultimamente, o assunto vem à tona quando vemos crianças e adolescentes mexendo nos celulares com muita facilidade. Porém, segundo o Museu da Comunicação de Berna, a cada dia, um adulto recebe o conteúdo de 12 mil livros. Dá pra acompanhar?
Na vida adulta, aliás, é muito comum que a necessidade de manter-se sempre bem informado(a), na vida pessoal e no trabalho, cause esse tipo de ansiedade:
“A tecnologia é um meio que nos ajuda a melhorar as nossas vidas, pode ser também o motivo de problemas de saúde e de relacionamento.
As pessoas tendem a acreditar que as ferramentas resolverão todo e qualquer problema. Não é bem assim.”
– Lívia Bicalho
Parece exagero? Dá uma olhada nos 08 sinais de Dependência da Internet:
- Preocupação excessiva com a Internet;
- Necessidade de aumentar o tempo conectado (on-line) para ter a mesma satisfação;
- Exibir esforços repetidos para aumentar o tempo de uso da Internet;
- Apresentar Irritabilidade e/ou depressão;
- Quando o uso da Internet é restringido, apresenta labilidade emocional (Internet como forma de regulação emocional);
- Permanecer mais conectado (on-line) do que o programado;
- Ter o trabalho e as relações familiares e sociais em risco pelo uso excessivo;
- Mentir aos outros a respeito da quantidade de horas conectadas.
via Portal Dependência de Internet
E atenção: a dependência tecnológica não vem sozinha. O quadro é comumente associado à ansiedade, timidez excessiva, depressão e déficit de atenção.
O tratamento da dependência de tecnologia é na maioria das vezes psicoterápico. Intervenções medicamentosas ainda estão sendo estudadas.
Ok, vamos repensar os hábitos de tecnologia em prol da saúde mental.
Mas o que isso tem a ver com o trabalho?
Pois é, entre adultos, a vida profissional também está na internet 24/7. E se você não consegue desconectar, ou mesmo promover um ambiente de trabalho que gere conexões reais, temos um problema.
E é mais comum do que parece. A diferença entre trabalho e lazer é muitas vezes definida pelo aplicativo que estamos usando. Do email do trabalho ao Instagram.
Dependência tecnológica no trabalho
A tecnologia revolucionou nossas relações de trabalho. São ferramentas, métricas e cargos baseados nos avanços e atividades que podemos automatizar. Você não estaria lendo este texto se não tivéssemos acesso à Internet, por exemplo.
A nível individual, quando esse acesso é pouco focado, sua produtividade acaba. Aqueles minutinhos para ver o WhatsApp, ver algo no Facebook, Instagram ou aquela fase do jogo que você finalmente conseguiu as vidas são vilões da produtividade.
Mas você pode dizer: sou 100% focado(a). Coloco o fone e faço as coisas acontecer.
Bom, muitas horas em frente do notebook pode fazer com que você adquira a Síndrome do Olho Seco. Fone alto demais? Traumas acústicos.
Mas e aí, dá para trabalhar e não ser dependente da tecnologia?
Sim! Aliás, o próximo desafio do RH das empresas é justamente aproveitar o melhor da tecnologia. Automatizar as tarefas e humanizar cada vez mais o trabalho.
“Fazer com que seus colaboradores estejam conectados pode trazer inovação, engajamento e criatividade com o seu cliente.
Porém, líderes de RH afirmam que é necessário ter bom senso com o uso de aparelhos celulares.
A proibição ocorre somente em casos extremos em que determinada atividade exige total atenção, se necessário dê um feedback.”
– Lívia Bicalho
Então, quando falamos em qualificações e tecnologia, não podemos nos restringir às mídias sociais e o vício que podem causar. Mas sim de como capacitar uma força de trabalho para interagir melhor com os avanços.
É essencial esquecer a ideia de que os robôs vão tomar nossos empregos, mas sim aprender como revolucionar o que entendemos como capacidades de empregabilidade:
“Trazendo isso para o mercado de trabalho, vemos muita ênfase nas carreiras técnicas e matemáticas. O famoso STEM, Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (em inglês – Science, Technology, Engineering e Mathematics). Governos vêm discutindo isso, como o da Inglaterra, por exemplo.
Como dar mais acessibilidade a cursos dessas áreas? Como formar mais profissionais nessas ciências?
Já ouvi vários palestrantes falarem que todo mundo deveria aprender a codificar.”
– Lívia Bicalho
No futuro, todos nós seremos devs.
Novas relações com a tecnologia
Uma pesquisa da Deloitte demonstra que habilidades técnicas e genéricas, como a de resolução de problemas, criatividade, inteligência emocional e interação são o combo perfeito para encontrar um emprego. E claro, equilibrar sua relação com a tecnologia.
Isso tudo não é só sobre manter um emprego, mas ganhar mais. Há uma correlação clara entre ter habilidades sociais e melhores remunerações, cerca de 10%.
Ah, embora o estudo tenha sido feito no Reino Unido, é fácil transportar essa realidade para o Brasil.
Não só porque a tecnologia torna isso mais democrático, mas porque estamos falando de colaboradores que podem executar suas tarefas de qualquer lugar do mundo.
Conclusão
Com a palavra, Lívia Bicalho:
A habilidade de se conectar no mundo de hoje, deve estar além dos usos das mídias sociais e algoritmos de escolhas comerciais. Aqueles que nos dizem o que gostamos e oferecem mil ofertas no nosso computador.
Percebam que a maior parte das sugestões dadas são baseadas em escolhas passadas e reforçam algo que já foi.
O maior desafio do ser humano sempre foi a convivência. A gente sempre foi super criativo para tentar burlar os problemas de convivência.
Às vezes menos criativos e mais na base da força.
Enfim, hoje as pessoas parecem acreditar que também será a tecnologia que irá resolver os problemas humanos, um grande exemplo disso é o sucesso das redes sociais.
No entanto, fica mais claro para mim, que é a humanidade (aqui como uma característica) que vai nos ajudar a ser mais criativos e a resolver os problemas do mundo.
Conexões reais
Mas a verdadeira conexão, aquela capaz de resolver os problemas dos clientes, dos amigos e até do mundo, está na capacidade de entender de gente.
Ainda que você trabalhe da sua casa, com o computador o dia todo e não quer perder sua atividade para o computador mais esperto que vem vindo aí, converse!
O mundo está sedento e abrindo as portas para aquelas pessoas que conseguem se conectar às necessidades das pessoas e levá-las a possíveis soluções.
Jacob Morgan, um autor de best-sellers e profissional que se dedica a estudar o futuro do trabalho, tem uma lista das 12 habilidades que salvarão sua carreira.
Entre elas, pelo menos metade, seis, estão relacionadas a capacidade de interação. A lista começa com colaboração e termina com empatia, tendo ainda comunicação, habilidade em dizer não, orientação ao cliente e auto-conhecimento.
No rodapé estão algumas referências para ilustração e reflexão. Vale a pena a leitura.
Por fim, não é só sobre dominar a tecnologia. É entender que ela é meio, não fim.
Voltemos ao básico de uma boa conversa, para entender, conectar. Aos jovens profissionais, vale a deixa de que uma boa relação constrói inúmeras possibilidades. Espero que tenhamos tempo para um café. 😉
Sugestões de leitura:
Kelly Kevin. The Inevitable: Understanding the 12 Technological Forces That Will Shape Our Future
Yuval Noah Harari. Sapiens. Uma breve História da Humanidade.
The Future Organization
Beyond Automation – Julia Kirby e Thomas H. Davenport
Talent for survival | Essential skills for humans working in the machine age – Deloitte
Sobre Lívia Bicalho
Experiente líder de RH. Apaixonada pela capacidade das pessoas de transformar o mundo. Sempre procurando por inovação, assumindo um desafio como líder de produto para trazer nova solução para a indústria, como parte do programa XLP. Hábil em Coaching, Gestão, Liderança e Planejamento Estratégico. Profissional de desenvolvimento de negócios forte.